sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

AVEIRO (Portugal)

"Postal" da Ria de Aveiro, onde repousam os seus barcos moliceiros

Já dizia Raul Brandão na sua notável obra literária "Os Pescadores" que... «Ninguém aqui vem que não fique seduzido, e, noutro país, esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado. É um sítio para contemplativos e poetas: qualquer fio de água lhes chega e os encanta».
Uma bela e simples caracterização da não menos bela - eu diria mesmo encantadora - cidade de Aveiro, situada na região centro de Portugal, e que tem na ria que nela se entranha o monumento natural de maior beleza, e que lhe confere o título de Veneza Portuguesa. Quem com ela trava conhecimento é quase impossível não se deixar apaixonar... logo à primeira vista, tal como comigo aconteceu. A zona central de Aveiro, onde a ria assume o papel principal de uma bela história de amor, é um dos postais mais bonitos de todo o continente português. Os (barcos) moliceiros que deslizam sobre as águas do canal principal da ria fazem-nos lembrar as gôndulas venezianas, constituindo desta forma um dos principais cartões de vista desta localidade lusitana. Situada numa região de montanhas sulcadas por vales e planíces lagunares, banhadas pela ria (que se estende até ao mar numa distância de 45km), Aveiro teve ao longo da sua longa vida na produção de sal e no comércio naval as suas principais ferramentos de desenvolvimento.
Demonstração da apanha do moliço na ria

Graças ao moliço, vegetação aquática que abunda na ria, apanhada pelos famosos moliceiros, os barcos criados para esse efeito, os aveirenses conseguiram ao longo dos séculos transformar áridos areais em férteis terras de cultivo de sal. Foi pois o sal que transformaria Aveiro a partir do Século X num importante centro marítimo e comercial. A produção de sal conheceu um assinalável abrandamento já nos séculos XIX e XX, muito por culpa do progressivo assoreamento da barra. Foi um período muito difícil para uma cidade que tinha no sal a sua principal fonte de rendimento, fase complicada que só foi atenuada pela chegada do caminho de ferro em finais do século XIX.
As salinas aveirenses
 
Hoje em dia Aveiro é um dos principais destinos turísticos nacionais, sendo poucos os visitantes de além fronteiras que não perdem a oportunidade de conhecer esta bela localidade, que eu lamentavelmente, conheci mais ao pormenor à cerca de 2 ou 3 anos atrás.
Para a memória - minha e por certo de todos os que algum dia visitaram Aveiro - fica o obrigatório passeio no barco moliceiro (recordo com saudade o passeio realizado em família no verão de 2011, com a minha mãe, irmãs, e esposa) pelos canais da ria, onde se podem contemplar as tradicionais casas térreas revestidas a azuleio, outrora habitadas pelos salineiros e pescadores da região. Visita obrigatória merece igualmente a Sé de Aveiro, também chamada de Igreja do Convento de São Domingos (construída entre os séculos XV e XVIII, sendo de arquitetura maneirista, barroca, e modernista, a qual está classificada como monumento nacional desde 1910), ou o antiquissímo edifício do Teatro Aveirense, a casa em que Eça de Queirós habitou quando viveu por estas bandas, o Mosteiro de Jesus, entre outras relíquias arqutetónicas.
A Sé de Aveiro, também chamada de Igreja do Convento de São Domingos

Os habituais frequentadores de centros comerciais também têm um bom motivo para visitar Aveiro, já que aqui está edificado o único shopping construído a céu aberto de Portugal.
Fora de Aveiro (centro) podemos encontrar a reserva de dunas de S. Jacinto, e as praias da Costa Nova, famosas pelos seus pequenos palheiros (casas típicas) coloridos.
Outra das relíquias aveirenses é a sua gastronomia, em especial - pelo menos para mim - os deliciosos ovos moles, ou ainda as famosas caldeiradas de enguias.
Um "ângulo" da Ria de Aveiro, que por momentos nos faz lembrar Veneza

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MDINA (Malta)

A vistosa porta que serve de entrada principal para a medieval Mdina

Malta foi sem dúvida um dos destinos mais marcantes por mim abraçados. Do longínquo sonho de conhecer aquele pequeno - e quase despercebido - país situado no Mar Mediterrâneo à concretizada realidade de pisar solo maltês o caminho foi longo, mas finalmente alcançado nos finais do verão de 2009 por motivos já aqui confessados aquando da visita virtual à capital maltesa La Valletta.
E por falar em capital a viagem de hoje terá como destino Mdina, uma pequena cidade medieval situada no centro de Malta que antes da construção de La Valletta assumia precisamente o papel de capital da ilha. Mas já lá vamos.
O ex-libris da cidade: a Catedral de São Paulo

A bordo de um - dos muitos - peculiar Maltese Bus - uma das principais atrações da ilha, como também já dei conta aquando da visita a La Valletta - dirigimo-nos - eu e a minha esposa - com uma certa curiosidade até Mdina, na espetativa de visitar um local obrigatório de conhecer, segundo nos tinham aconselhado alguns nativos da ilha. Por estradas um tanto ao quanto mal tratatadas (quiçá o ponto negativo desta viagem) atravessámos grande parte da ilha, tendo a oportunidade de guardar na retina alguns postais virtuais de outras localidades maltesas, casos de Naxxar, Mosta (tendo saltado à vista a sua imponente e bela Igreja de Santa Maria, um templo em formato circular e cuja cúpula - redonda - é a terceira maior da Europa), ou Ta Qali (uma pequena localidade situada ao largo da estrada que liga Mosta a Rabat, conhecida pelos seus trabalhos artesanais de vidro, cerâmica e filigrana e que a mim me chamou particularmente à atenção por ser ali que se encontra edificado o Ta Qali National Stadium, nada mais nada menos do que o famoso, pelo menos para mim, estádio nacional de Malta, o qual pude vislumbrar desde o interior do Maltese Bus que nos conduzia até ao nosso destino daquele dia).
E eis que no cimo de uma pequena colina avistámos finalmente Mdina, a cidade construída dentro de muralhas. O autocarro deixou-nos muito próximos da entrada principal da pequena cidade, uma entrada que desde logo me cativou pela sua imponente beleza arquitetónica, e cuja construção data de 1724, a mando do Gran Mestre de Vilhena. O caminho até à porta principal da cidade é feito agora por uma ponte de pedra - que atravessa um fosso escavado pelos árabes, ponte esta que substituiu a anterior ponte levadiça ali existente - decorada com dois escudos esculpidos em pedra, sustentados por dois leões que simbolizam o escudo de armas do Gran Mestre de Vilhena. No cimo da porta existe uma inscrição em latim que recorda os detalhes alusivos à sua construção, bem como um outro escudo de pedra decorado com símbolos militares, secundado pelas armas do Gran Mestre.
Um aspeto de uma das muitas estreitas e silenciosas artérias de Mdina

Mas antes de entrarmos em Mdina convém recordar um pouco da história do surgimento desta cidade. Os historiadores apontam os fenícios como o primeiro povo a habitar a localidade, por volta do ano 7000 a.C., responsabilizando-os pelo início da construção das muralhas em seu redor. Séculos mais tarde, a cidade seria ampliada pelos romanos, que a batizaram de Melita. Mais tarde, e durante a sua "estadia" em solo maltês, os arábes dividiram esta antiga cidade em duas partes: a cidade principal (que seria rebatizada de Mdina), erguida entre as muralhas, e os subúrbios, os quais seriam batizados de Rabat, palavra que no alfabeto árabe quer precisamente dizer... subúrbio. Hoje em dia Rabat é mais do que um mero subúrbio, é já uma das principais cidades de Malta, e sobre ela falarei numa outra próxima visita à ilha.
Mdina fica pois geograficamente localizada no interior... de Rabat (!), uma cidade dentro de outra cidade, se assim quisermos vê-la. Atravessando a porta principal (de Mdina) deparámo-nos com uma série de deslumbrantes edíficios de arquitetura clássica erguidos sobre estreitas artérias que por momentos nos fazem lembrar labirintos. Mas labirintos de uma beleza única, que guardam muita da história de Malta da época medieval.
Como já foi dito no ínicio desta viagem Mdina foi a primeira capital maltesa, ali estavam sediados o governo e os principais centros administrativos da ilha, assumindo ainda o papel de ponto de reunião das forças militares em caso de ataque inimigo, até porque neste último aspeto não convém esquecer que Mdina está situada no ponto mais alto da ilha, com uma ampla vista sobre grande parte do território, longe do mar, e como tal um local estratégico de defesa em caso de ataque inimigo.
Interior da vistosa Catedral de São Paulo

Quando em 1530 a Ordem dos Cavaleiros de São João chegou à ilha estes decidiram fixar-se próximo do porto onde os seus barcos haviam sido atracados, deixando Mdina e os seus habitantes (arábes na sua maioria, pois os católicos, e as ordens religiosas em especial, começaram a construir as suas casas e igrejas em Rabat) descansados.. dos seus ataques. Pouco tempo depois desde a chegada dos cavaleiros começou a ser construída La Valletta, que em 1571 passou a ser a capital de Malta em detrimento de Mdina. A partir de então esta última localidade passou a ser conhecida como a "Cidade Velha", como ainda hoje é denominada. Grande parte dos habitamtes de Mdina mudaram-se de armas e bagagens para a "Cidade Nova" (La Valletta), sendo que os poucos resistentes a essa mudança faziam parte de famílias aristrocáticas que preferiram continuar a habitar as suas casas apalaçadas, que aliás ainda hoje se podem contemplar, residindo aqui, quanto a mim, um dos principais interesses de Mdina, precisamente as suas habitações apalaçadas. São vários os vestígios das diversas civilizações que ocuparam Mdina, e que "aqui e acolá" se deparam diante dos nossos olhos, desde casas, até praças, ou meros adereços como os trabalhados batentes das portas das habitações. Percorrer as estreitas ruas desta cidade é como contemplar um museu ao ar livre, onde ficámos a conhecer o legado deixado pelas várias civilizações que ocuparam esta zona da ilha.
Imponente, e talvez o edíficio mais mediático de Mdina, é a sua catedral, a Saint Paul's Cathedral (Catedral de São Paulo). Reza a lenda que o apóstolo Paulo terá vivido nesta área após ter desembarcado na ilha no ano de 60 d.C., tendo este templo sido o primeiro de cariz religioso a ser construído em Malta, por volta do século XI, e reconstruído em estilo barroco no ano de 1702 após ter sido praticamente destruído por um terramoto ocorrido em 1693. O arquiteto maltês Lorenzo Gafà foi o responsável pela reconstrução da catedral, a qual seria rebatizada de Saint Paul's Cathedral, precisamente em memória do apóstolo Paulo. Ao entrar na catedral o espanto toma conta de nós, ao vislumbrar-mos a rica arquitetura do templo, onde sobressaem as talhas douradas, as esculturas, e as pinturas deslumbrantes situadas no teto representando as várias etapas da vida de São Paulo.
O "turista" (eu) posando para a foto que marca a visita a uma cidade... marcante

Defronte da catedral calcarreámos a ampla Archbishop's Square (Praça do Arcebisto), o espaço mais amplo da cidade das ruas estreitas, onde se situa o Museu da Catedral, onde pudemos visionar os tesouros que restam do templo antes deste ser praticamente destruído pelo terramoto de 1693. Em redor da praça uma outra loja artesanal cativa os visitantes de Mdina, e neste aspeto não deixo de referenciar a principal atração da localidade, os trabalhos - magníficos - concebidos em vidro. Mdina Glass (Vidro de Mdina) é a arte que hoje em dia leva o nome desta cidade pelo Mundo fora. Como cidade amuralhada, e povoada por ruas muito estreitas, torna-se díficil a circulação de veículos automóveis, dai que a localidade seja também conhecida como Silent City (Cidade Silenciosa), resguardada do barulho incómodo dos automóveis, facto que permite à nossa mente viajar tranquilamente e de forma silenciosa pelas estreitas artérias e pela rica hstória desta velha cidade medieval.
Um dos locais que mais me atraiu em Malta, sem dúvida.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CHAVES (Portugal)

Trás-os-Montes e Alto Douro é hoje em dia uma região que se depara com o flagelo do despovoamento, da fuga (constante e alarmante) das suas gentes para paragens do estrangeiro ou para pontos urbanos do litoral do continente português. A alma dói-nos quando percorremos as vilas e aldeias desta bela região do interior de Portugal e encaramos de frente com o triste silêncio consequente da desertificação destas paragens. Facto (preocupante) que mesmo assim não apaga a imagem da beleza natural reinante naquelas terras altas. Falar de uma forma pormenorizada nos encantos (vários) de Trás-os-Montes e Alto Douro seria motivo obrigatório para se escreverem linhas perpétuas… tarefa essa de difícil, ou impossível, abraço nas linhas que hoje traço.
Vou sim recordar o meu encontro com uma das princesas transmontanas, a Cidade de Chaves. Posicionada geograficamente a norte desta região Chaves passeia-se pelo verde transmontano com uma beleza ímpar. Confesso, com alguma vergonha, que apenas me apercebi do encanto desta cidade há muito pouco tempo aquando da minha segunda visita. A primeira incursão à “flor do Tâmega” foi realizada na companhia dos meus pais (habituais frequentadores destas paragens), em ano que sinceramente não me recordo, numa (tenra) idade particularmente (no que me diz respeito) imprópria para a aptidão, e sobretudo paciência, para contemplar com a devida atenção e interesse todos os cantos de uma cidade, neste caso.
Espírito bem diferente levei comigo na segunda incursão feita ao local, realizada uma semana antes do Natal de 2010, na companhia da minha esposa, sentindo-me desta feita obrigado a dar um pouco mais de atenção a um concelho no qual possuo raízes. É verdade, tenho uma “costela” flaviense (assim são denominados os habitantes de Chaves) graças ao meu avô materno cujo berço assenta em Vilela do Tâmega uma das 51 freguesias de cariz maioritariamente rural pertencentes ao Concelho de Chaves.
Aliás Chaves é um concelho quase na sua totalidade de matriz rural, com o comércio e a indústria a aparecerem num segundo plano geograficamente posicionado (sobretudo) na sede concelhia.Outro dos mais emblemáticos monumentos flavienses, o Castelo e a Torre de Menagem

Chaves (cidade) é um local povoado de histórias e de... História. Ora, sendo eu um curioso dos caminhos da História foi pois com sagaz curiosidade que percorri alguns dos trilhos da urbe flaviense naquele gélido dia de dezembro. E desenrolando o novelo da História de Chaves descobrimos que aqui são guardados alguns vestígios da pré-história, alusivos aos períodos neolítico e calcolítico, assim como da idade do ferro. Sinais que se encontram maioritariamente na periferia da cidade e que constituem uma verdadeira riqueza e motivo de orgulho para as suas gentes.O pomposo solar do século XIX onde funciona atualmente a Câmara de Chaves

Mas já que recordamos alguns dos muitos povos que habitaram estas terras não podemos esquecer os romanos, talvez o povo que marcou de forma mais vincada esta região. Aqui chegaram há cerca de 2000 anos atrás em busca do ouro que abundava no sub solo desta zona e rapidamente a monopolizaram com os seus costumes, leis, cultura e arquitetura. E neste último campo a marca romana que mais curiosidade me terá suscitado foi sem dúvida a Ponte de Trajano (que pode ser vista na primeira imagem), para mim o ex-libris da cidade, e para muitos a maior recordação legada pelos romanos a esta terra.A Igreja Matriz de Chaves

“Edificada” sobre as águas do bucólico (rio) Tâmega a ponte – que atravessa a cidade – foi construída em finais do século I e inícios do II século. A estrutura, de cerca de 150 metros de cumprimento, assenta em 20 arcos, sendo que apenas 16 se encontram visíveis, pois os restantes estão soterrados nas construções situadas junto da ponte em cada uma das margens. No meio deste bela obra arquitetónica – classificada como monumento nacional em 1938 – erguem-se duas colunas contendo inscrições romanas. Sempre com a imponente e formosa ponte debaixo de olho fui caminhando pelas margens verdejantes do silencioso Tâmega rumo à instância termal, precisamente uma das principais razões pela qual Chaves é tão procurada pelos forasteiros. As termas, outra das grandes descobertas da permanência dos romanos nestas paragens, os quais se aperceberam das milagrosas potencialidades das nascentes de água quente que corriam debaixo daquelas terras, recomendadas para o tratamento de diversas “maleitas” do corpo humano. Na altura a descoberta romana fez crescer e muito esta urbe, a qual seria batizada de... Aquae Flaviae.A formosa Igreja da Misericórdia, dizem os flavienses ser a mais bela de toda a cidade

Deambulando pelas estreitas e peculiares artérias medievais flavienses fui descobrindo outras atrações da cidade, com o Castelo e a Torre de Menagem em plano de destaque. Ladeado por um simples – mas portador de beleza ímpar – jardim o monumento é bem mais recente do que a vistosa Ponte de Trajano, tendo sido construído no século IX. Vale a pena subir a imponente Torre de Menagem e dali deslumbrar a vista com a paradisíaca Chaves.A estátua de D. Afonso I situada defronte do solar que hoje em dia alberga os Paços do Concelho

Dali aos paços do concelho o caminho é curto, o tempo suficiente para no entanto levar a nossa imaginação até épocas medievais após calcarrear o terreiro do castelo. A ampla e pomposa Praça de Camões – parte integrante do centro histórico, onde estão implantados os paços do concelho – foi o nosso ponto de paragem seguinte, podendo ali os nossos olhos vislumbrar mais uma série de pérolas arquitetónicas. Desde logo o próprio palacete onde hoje se encontra a sede da autarquia flaviense, um solar erguido em meados do século XIX “vigiado eternamente” pela figura de D. Afonso I, o primeiro duque de Bragança, cuja estátua foi edificada bem defronte do edíficio.Ser jornalista tem destes vícios, dar por nós a fotografar a porta de entrada de um dos jornais locais, neste caso a Voz de Chaves

Do lado oposto da praça repousa a Igreja de Santa Maior, popularmente conhecida como Igreja Matriz, de traços románicos e cujos primeiros relatos da sua existência datam do longínquo ano de 1259. Também na Praça de Camões está edificada a Igreja da Misericórdia, rotulada como a mais bela igreja flaviense, construida no século XVII e de traço barroco, cuja fachada (oito colunas salomónicas com plintos e capiteis) nos deixa parados no tempo enquanto a contemplamos. Chaves é aliás rica em templos religiosos, situados noutros recantos da cidade.A imponente beleza do "cartão de visita" da cidade num momento para mais tarde recordar

Percorrendo serenamente as medievais e piturescas artérias flavienses, onde admirámos as não menos piturescas casas de traço medieval, encontrámos outra riqueza destas paragens, desta feita uma rqiueza gatronómica, e da qual eu sou um adepto confesso. Falo dos famosos pastéis de Chaves, um folhado recheado com carne picada com um formato de meia lua que faz as delícias dos visitantes. Como a manhã já ia alta e o apetite mostrava-se impaciente foi na típica e popular casa do João Padeiro – um dos locais que melhor confeciona esta especialidade – que degustei um genuíno pastel de Chaves. Gastronomia que é aliás outro dos atrativos flavienses, já que aqui habitam autênticas obras de arte culinárias, por assim dizer. E assim à primeira vista recordo o presunto de Chaves como um dos mais afamados de Portugal, os fumeiros, o delicioso Folar de Chaves, ou o imperdível cabrito assado que pode ser encontrado e bem confecionado nas diversas casas de repasto da cidade.
Restará traçar umas breves mas elogiosas linhas para com as gentes flavienses, extremamente amáveis – sempre pretáveis para exclarecer as dúvidas dos seus turistas – e sobretudo orgulhosas desta sua terra de beleza ímpar.

Nota: Este texto foi escrito segundo as regras do novo acordo ortográfico

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

CAMINHA (Portugal)

“Encravada entre o rio Minho, o rio Coura e a montanha e situada à vista do oceano, Caminha tem uma situação geográfica priveligiada em termos de variedade de belezas naturais”. Esta frase, da autoria de João J.R.T. Azevedo, é como que um belo postal ilustrado da pituresca Caminha, uma vila situada no extremo norte de Portugal “senhora” de um charme natural de difícil resistência... e eu que o diga. Recordo por isso o Verão de 2002, altura em que travei conhecimento com esta vila minhota plantada no Distrito de Viana do Castelo, e de lá para cá não mais a perdi de vista, pois sempre que a oportunidade surge impõe-se uma visita. É de facto um dos meus locais favoritos em terras lusitanas, não só pela sua beleza natural, como também pelo seu património histórico, gastronomia e claro está pela simpatia das suas gentes. O meu monumento caminhense preferido: a Torre do relógio

“Desenhada” na foz do rio Minho Caminha tem tido graças ao seu posicionamento geográfico um forte crescimento ao nível do turismo, especialmente no Verão, onde milhares de turistas procuram a tranquilidade das suas praias ou a aventura na Serra d' Arga, um enorme manto verde que como que protege a vila. O Chafariz do Terreiro

No primeiro aspecto são populares os areais de Moledo e Vila Praia de Âncora, duas das 20 freguesias do Concelho de Caminha, sem esquecer a praia do Camarido bem posicionada no local onde o Minho (rio) beija o Atlântico (oceano). Aliás, o Camarido não é só um local para os amantes dos banhos de sol, já que aqueles que preferem a sombra das árvores também aqui podem usufruir de um tempo bem passado, visto a praia ser envolvida pelo imenso pinhal do Camarido. E depois de um belo dia de praia ou de campo nada melhor que uma noite bem passada no centro da vila, começando o nosso serão na movimentada (sobretudo durante a época balnear) Praça Conselheiro Silva Torres, onde nos podemos deliciar com a saborosa e inigualável gastronomia minhota num dos muitos restaurantes ali instalados, e terminando já noite alta num dos bares da sempre animada e jovem Rua Direita, uma simpática artéria medieval. A jovem e animada Rua Direita

Pela sua beleza histórica a zona central de Caminha é a que mais me entusiasma, muito em particular aquele que eu classifico como o seu monumento de maior beleza e simbolismo: a Torre do Relógio. Trata-se de uma torre de menagem datada do século XIII pertencente ao já desaparecido Castelo Medieval de Caminha, sendo esta a única torre intacta que resta do referido castelo. Não posso igualmente deixar de frisar o belissímo Chafariz do Terreiro “plantado” em plena Praça Conselheiro Silva Torres, um monumento datado do século XVI que apresenta uma arquitectura de tipologia renascentista e que hoje em dia assume um forte papel decorativo da referida praça. Este é aliás um espaço que respira história, sendo de realçar ainda a Casa dos Pita, uma espécie de palacete com dois pisos datado do século XVII. Caminha vista do meio do Minho (rio), destacando-se no meio do povoado a imponente igreja matriz

Um pouco mais distante da Praça Conselheiro Silva Torres ergue-se a imponente Igreja Matriz de Caminha, que com uma tipologia gótica, manuelina, renascentista e barroca é um ponto de visita obrigatório de quem visita a vila. De sembelante um pouco mais triste corre ao lado de Caminha o rio Coura, posicionado num local mais recatado e escondido da vila, em meu entender, mas que mesmo assim não é esquecido pelos atletas do Sporting Clube Caminhense, um dos maiores emblemas do remo nacional, que ali desenvolvem a sua actividade.O velhinho Santa Rita de Cássia que faz a travessia entre Portugal e Espanha

Com o papel de actor principal está claro o rio Minho, uma fronteira natural entre Portugal e Espanha, e aqui reside quanto a mim um dos atractivos mais curiosos da vila, o facto de podermos fazer a travessia de um país para o outro a bordo do popular e velhinho “ferry-boat” baptizado de Santa Rita de Cássia, que nos embala nas tranquilas águas do Minho desde Caminha até La Guardia, a simpática cidade espanhola situado do outro lado da margem. Não menos simpáticos são os passeios pela marginal do Minho ao pôr-do-sol, contemplando o “descanso” dos pequenos barcos dos pescadores locais no azul leito do principal rio desta ímpar vila minhota.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

LA VALLETTA (Malta)

Malta, a heróica ilha que ao longo de séculos viu a sua liberdade ser aprisionada por diversos impérios sequiosos de dominar o Mundo. Fenícios, gregos, romanos, franceses, ou britânicos, todos eles tomaram – alguns através da “lei das armas” - o pequeno arquipélago plantado no imenso “jardim” do Mediterrâneo. O porquê desta obsessão comum? Malta nasceu com um dom: a sua estratégica posição geográfica – situada entre o sul da Europa e o norte de África, em termos mais precisos a 93 km do sul da Sicília (Itália) e a 288 km do nordeste da Tunísia -, que fez destas terras uma importante ponte – comercial, e não só – entre os continentes europeu e africano. Um aspecto de La Valletta vista do miradouro de Cospicua

Livre desde 1974 Malta é hoje um filho – em fase de crescimento – da Europa, fazendo parte da União Europeia desde 2004, apresentando traços de uma personalidade muito particular. Uma personalidade multi-cultural, fruto, claro está, das várias civilizações que colonizaram o país ao longo de séculos. Na cultura, na língua, na arquitectura, nas tradições populares, nas características das suas gentes é por demais evidente a existência de uma mescla das diferentes culturas legadas pelos antigos colonizadores que fazem de Malta um país de grande beleza (sob diversos aspectos).O "turista" em plena Rua da República

Há pouco mais de um ano atrás e numa altura em que o Verão deixava já um rasto de saudade nos caminhos do recém-chegado Outono tive a oportunidade – e felicidade também – de visitar Malta. Fi-lo – há que dizê-lo – num dos capítulos mais belos da minha vida: na minha lua-de-mel. Foram muitos os que na altura aparentaram espanto e curiosidade em torno de tal escolha para um destino a dois... ainda para mais recém-casados. O mais certo seria um qualquer resort tropical nas Maldivas, no Brasil, ou na parte mais central das Américas. Mas não, foi Malta... simplesmente porque foi. Ao final da manhã do dia 20 de Setembro de 2009 eu e a minha – recente – esposa pisámos solo maltês pela primeira vez nas nossas vidas. À nossa espera o transporte que nos iria levar até Sliema, localidade onde ficámos instalados. Chegado à viatura pude então visionar o primeiro de muitos costumes deixados pelos antigos colonizadores, neste caso pelos britânicos... o facto de à semelhança do que acontece na Grã-Bretanha ali se conduzir pela esquerda. Sobre Sliema e as primeiras impressões sobre aquilo que os meus olhos viram nas horas iniciais de estadia na ilha falarei noutros capítulos deste meu diário virtual, pois daqui para a frente irei percorrer os caminhos da capital maltesa: La Valletta. Conheci La Valletta a 21 de Setembro, um dia após ter chegado ao país que é cercado pelo Mediterrâneo, e a minha primeira impressão foi de espanto! Isto porque ao cruzar a principal porta de entrada da cidade, denominada de “City Gate”, fui-me apercebendo que a cidade se encontrava praticamente deserta! Como era possível uma capital europeia estar quase despovoada numa segunda-feira ao início da tarde? Escavando o dilema percebi então que assim era pelo facto de naquele dia ser feriado nacional, comemorava-se mais um aniversário da Independência do país. Percebi também que os malteses são um povo que gosta de aproveitar os seus dias livres no conforto das suas casas, a julgar pelo quase deserto humano em que La Valletta estava transformada, não se vislumbrando mais do que, aqui e além, um ou outro turista. Um cenário que no entanto não impediu a minha curiosidade de pôr pés a caminho e deambular por diversas artérias da cidade. A Rua da República

A “Republic Street” (Rua da República) assume contornos de artéria principal da capital maltesa, sendo a maior parte da sua extensão de cariz pedonal. É não só a rua mais movimentada da cidade – mesmo nos dias de descanso – como também a mais larga. Iniciada no “City Gate” a rua prolonga-se até ao Forte de San Elmo, sendo que na sua extensão encontram-se não só a maior parte dos espaços comerciais de La Valletta como igualmente diversos monumentos. São os casos das igrejas de S. Francisco e de Santa Bárbara, do Palácio da Justiça, ou da Biblioteca Nacional de Malta, este último edifício de grande beleza situado na “Republic Square” (Praça da República).Um plano da Praça da República com Biblioteca Nacional de Malta em pano de fundo

Esta última praça é também conhecida como a “Queen Square” (Praça da Rainha) pelo facto de ter sido construida durante o tempo da Rainha Victoria, sendo que defronte da entrada principal da Biblioteca Nacional pode ser vista a majestosa estátua da citada monarca. Uma nota de rodepé para frisar que nesta praça existe um dos mais emblemáticos restaurantes de La Valletta, o Cordina Café, um local onde se podem saborear diversas especialidades gastronómicas maltesas. Devo confessar que neste local, não no Cordina Café, mas noutro restaurante vizinho, comi a pior pizza da minha vida... nem tudo pode ser perfeito. Mas sobre a gastronomia maltesa falarei numa próxima “visita virtual” à ilha.O Palácio da Justiça

Deixando “Republic Street” vaguei seguidamente por outros pontos circundantes, pudendo aperceber-me que em La Valletta as ruas são bastante estreitas e inclinadas, contrariamente à artéria central, sendo povoadas de pequenos e gastos edifícios habitacionais, na sua maioria, portadores das suas peculiares varandas, uma espécie de pequena marquise de madeira, qua aliás se encontram “agregadas” a quase todos os edifícios habitacionais de Malta. Uma das muitas pequenas e estreitas artérias da cidade com vista para o Porto de Harbour

“Aqui a acolá” encontro algumas praças, pequenas mas de grande beleza, como aquela onde está erguida a “St. John's Cathedral” (Catedral de S. João) construida em 1578 pela mão dos cavaleiros da Ordem de S. João com base num projecto do arquitecto maltês Geralomo Cassar e financiado pelo Grão Mestre Jean de la Cassiére. Este tal como outros edifícios monumentais de La Valletta assentam num estilo barroco. Aliás, para quem é adepto de edifícios de âmbito religioso (igrejas sobretudo) pode deliciar-se com o vasto e rico património da capital maltesa.Catedral de S. João

Neste aspecto percebe-se claramente a influência dos cavaleiros da Ordem de S. João que há cinco séculos atrás se refugiaram na ilha depois de expulsos de Rodes pelos turcos otomanos. Continuando numa toada histórica dizer que a guerra entre os cavaleiros e os turcos manteve-se durante algum tempo, com estes últimos a não dar descanso aos pobres cavaleiros de S. João que mesmo no seu novo cantinho (Malta) eram atacados pelos insatisfeitos turcos. Escreve a História que em 1565 uma colossal frota turca ataca Malta no sentido de dar uma vez mais ordem de expulsão aos cavaleiros de S. João Baptista. Uma imagem da Praça de S. João

O cerco da ilha foi feito em Maio e só em Setembro é que os turcos, vendo que desta feita não levariam a melhor sobre os católicos, baixariam as armas e abandonavam Malta. Posteriormente a esta guerra os cavaleiros viriam a espalhar-se um pouco por toda a ilha e muito em particular na zona onde iria nascer La Valletta. Um local que com o passar dos anos se foi desenvolvendo, tendo tido a necessidade de ser edificada uma fortaleza envolvendo o povoado. La Valletta é por isso uma cidade erguida dentro de um forte plantado de fronte para o azul Mediterrâneo. O Valletta Waterpolo Stadium

Contornando as muralhas do forte pude então comprovar a indescritível beleza circundante de La Valletta: de um lado o visionamento do maravilhoso “quadro” das Três Cidades (Vittoriosa, Senglea, e Cospicua) e do outro uma vista não menos atraente da “Isla Manuel” (Ilha de Manuel) e da localidade de Gzira. Deste último “miradouro”, por assim dizer, não pude ficar indiferente ao facto de ter encontrado o “Valletta Waterpolo Stadium”, como o próprio nome indica um pequeno recinto com bancadas destinado à prática de pólo aquático, um dos desportos mais populares da ilha, e no que me toca uma das modalidades que mais admiro. Depois de ouvir falar de tantas histórias alusivas a este recinto desportivo (situado bem ao lado da imponente Igreja de Nossa Senhora do Monte Carmelo), “ancorado” a La Valletta em pleno Mar Mediterrâneo, onde tantos e tantos célebres jogos de pólo aquático ocorreram, não pude esconder uma certa felicidade de poder estar ali a visioná-lo “in loco”. Enfim, não fujo à regra, sou um ferrenho amante do desporto, e como tal estas pequenas coisas insignificantes para a maior parte dos turistas para mim tem um relevo maior.A Fonte de Triton, situada defronte da principal porta da Cidade ("City Gate")

A La Valletta voltei na companhia da minha querida esposa na 6ª feira seguinte, desta feita para gozar os nossos últimos momentos de lua-de-mel na ilha, bem como para poder gastar alguns euros numa ou noutra recordação. Não sem antes perdermos – no sentido positivo, claro está – algum tempo com uma agradável visita aos Jardins Altos da Barraca, onde pudemos contemplar pela última vez a beleza das Três Cidades bem como assistir ao entra e sai constante de cruzeiros no “Grande Harbour” (principal porto de La Valletta).O peculiar "Maltease Bus", principal meio de transporte da ilha

Posto isto regressámos ao “City Gate” para nos despedir-mos definitivamente da cidade, sendo que no exterior nos esperava o peculiar e principal meio de transporte maltês, o “Maltease Bus”. Tratam-se de velhos e coloridos autocarros, de impensável circulação num país do chamado “1º Mundo”, que pelo seu carisma de autêntica relíquia se assumem como um dos mais curiosos atractivos da ilha. Transformado num autêntico museu de velhos autocarros, assim parecia, mas na verdade trata-se da central de autocarros de La Valletta (com ligação para toda ilha) a rotunda exterior da “City Gate” é emblezada por um imponente fontanário, a “Triton Foutain” (Fonte de Triton), que se apresenta como que um cartão de boas vindas a quem chega pela primeira vez à bela capital de Malta.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Memórias de um viajante...

Viagens & Memórias faz-se à estrada com o intuito de ser um espaço virtual onde as imagens e as palavras são o meio de transporte que nos levarão à descoberta do nosso Mundo. À descoberta para alguns e à lembrança para outros.
Enquadro-me nesta última categoria de viajantes, pois daqui em diante os destinos aqui traçados não serão mais do que um diário de memórias dos caminhos por mim percorridos.