quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MDINA (Malta)

A vistosa porta que serve de entrada principal para a medieval Mdina

Malta foi sem dúvida um dos destinos mais marcantes por mim abraçados. Do longínquo sonho de conhecer aquele pequeno - e quase despercebido - país situado no Mar Mediterrâneo à concretizada realidade de pisar solo maltês o caminho foi longo, mas finalmente alcançado nos finais do verão de 2009 por motivos já aqui confessados aquando da visita virtual à capital maltesa La Valletta.
E por falar em capital a viagem de hoje terá como destino Mdina, uma pequena cidade medieval situada no centro de Malta que antes da construção de La Valletta assumia precisamente o papel de capital da ilha. Mas já lá vamos.
O ex-libris da cidade: a Catedral de São Paulo

A bordo de um - dos muitos - peculiar Maltese Bus - uma das principais atrações da ilha, como também já dei conta aquando da visita a La Valletta - dirigimo-nos - eu e a minha esposa - com uma certa curiosidade até Mdina, na espetativa de visitar um local obrigatório de conhecer, segundo nos tinham aconselhado alguns nativos da ilha. Por estradas um tanto ao quanto mal tratatadas (quiçá o ponto negativo desta viagem) atravessámos grande parte da ilha, tendo a oportunidade de guardar na retina alguns postais virtuais de outras localidades maltesas, casos de Naxxar, Mosta (tendo saltado à vista a sua imponente e bela Igreja de Santa Maria, um templo em formato circular e cuja cúpula - redonda - é a terceira maior da Europa), ou Ta Qali (uma pequena localidade situada ao largo da estrada que liga Mosta a Rabat, conhecida pelos seus trabalhos artesanais de vidro, cerâmica e filigrana e que a mim me chamou particularmente à atenção por ser ali que se encontra edificado o Ta Qali National Stadium, nada mais nada menos do que o famoso, pelo menos para mim, estádio nacional de Malta, o qual pude vislumbrar desde o interior do Maltese Bus que nos conduzia até ao nosso destino daquele dia).
E eis que no cimo de uma pequena colina avistámos finalmente Mdina, a cidade construída dentro de muralhas. O autocarro deixou-nos muito próximos da entrada principal da pequena cidade, uma entrada que desde logo me cativou pela sua imponente beleza arquitetónica, e cuja construção data de 1724, a mando do Gran Mestre de Vilhena. O caminho até à porta principal da cidade é feito agora por uma ponte de pedra - que atravessa um fosso escavado pelos árabes, ponte esta que substituiu a anterior ponte levadiça ali existente - decorada com dois escudos esculpidos em pedra, sustentados por dois leões que simbolizam o escudo de armas do Gran Mestre de Vilhena. No cimo da porta existe uma inscrição em latim que recorda os detalhes alusivos à sua construção, bem como um outro escudo de pedra decorado com símbolos militares, secundado pelas armas do Gran Mestre.
Um aspeto de uma das muitas estreitas e silenciosas artérias de Mdina

Mas antes de entrarmos em Mdina convém recordar um pouco da história do surgimento desta cidade. Os historiadores apontam os fenícios como o primeiro povo a habitar a localidade, por volta do ano 7000 a.C., responsabilizando-os pelo início da construção das muralhas em seu redor. Séculos mais tarde, a cidade seria ampliada pelos romanos, que a batizaram de Melita. Mais tarde, e durante a sua "estadia" em solo maltês, os arábes dividiram esta antiga cidade em duas partes: a cidade principal (que seria rebatizada de Mdina), erguida entre as muralhas, e os subúrbios, os quais seriam batizados de Rabat, palavra que no alfabeto árabe quer precisamente dizer... subúrbio. Hoje em dia Rabat é mais do que um mero subúrbio, é já uma das principais cidades de Malta, e sobre ela falarei numa outra próxima visita à ilha.
Mdina fica pois geograficamente localizada no interior... de Rabat (!), uma cidade dentro de outra cidade, se assim quisermos vê-la. Atravessando a porta principal (de Mdina) deparámo-nos com uma série de deslumbrantes edíficios de arquitetura clássica erguidos sobre estreitas artérias que por momentos nos fazem lembrar labirintos. Mas labirintos de uma beleza única, que guardam muita da história de Malta da época medieval.
Como já foi dito no ínicio desta viagem Mdina foi a primeira capital maltesa, ali estavam sediados o governo e os principais centros administrativos da ilha, assumindo ainda o papel de ponto de reunião das forças militares em caso de ataque inimigo, até porque neste último aspeto não convém esquecer que Mdina está situada no ponto mais alto da ilha, com uma ampla vista sobre grande parte do território, longe do mar, e como tal um local estratégico de defesa em caso de ataque inimigo.
Interior da vistosa Catedral de São Paulo

Quando em 1530 a Ordem dos Cavaleiros de São João chegou à ilha estes decidiram fixar-se próximo do porto onde os seus barcos haviam sido atracados, deixando Mdina e os seus habitantes (arábes na sua maioria, pois os católicos, e as ordens religiosas em especial, começaram a construir as suas casas e igrejas em Rabat) descansados.. dos seus ataques. Pouco tempo depois desde a chegada dos cavaleiros começou a ser construída La Valletta, que em 1571 passou a ser a capital de Malta em detrimento de Mdina. A partir de então esta última localidade passou a ser conhecida como a "Cidade Velha", como ainda hoje é denominada. Grande parte dos habitamtes de Mdina mudaram-se de armas e bagagens para a "Cidade Nova" (La Valletta), sendo que os poucos resistentes a essa mudança faziam parte de famílias aristrocáticas que preferiram continuar a habitar as suas casas apalaçadas, que aliás ainda hoje se podem contemplar, residindo aqui, quanto a mim, um dos principais interesses de Mdina, precisamente as suas habitações apalaçadas. São vários os vestígios das diversas civilizações que ocuparam Mdina, e que "aqui e acolá" se deparam diante dos nossos olhos, desde casas, até praças, ou meros adereços como os trabalhados batentes das portas das habitações. Percorrer as estreitas ruas desta cidade é como contemplar um museu ao ar livre, onde ficámos a conhecer o legado deixado pelas várias civilizações que ocuparam esta zona da ilha.
Imponente, e talvez o edíficio mais mediático de Mdina, é a sua catedral, a Saint Paul's Cathedral (Catedral de São Paulo). Reza a lenda que o apóstolo Paulo terá vivido nesta área após ter desembarcado na ilha no ano de 60 d.C., tendo este templo sido o primeiro de cariz religioso a ser construído em Malta, por volta do século XI, e reconstruído em estilo barroco no ano de 1702 após ter sido praticamente destruído por um terramoto ocorrido em 1693. O arquiteto maltês Lorenzo Gafà foi o responsável pela reconstrução da catedral, a qual seria rebatizada de Saint Paul's Cathedral, precisamente em memória do apóstolo Paulo. Ao entrar na catedral o espanto toma conta de nós, ao vislumbrar-mos a rica arquitetura do templo, onde sobressaem as talhas douradas, as esculturas, e as pinturas deslumbrantes situadas no teto representando as várias etapas da vida de São Paulo.
O "turista" (eu) posando para a foto que marca a visita a uma cidade... marcante

Defronte da catedral calcarreámos a ampla Archbishop's Square (Praça do Arcebisto), o espaço mais amplo da cidade das ruas estreitas, onde se situa o Museu da Catedral, onde pudemos visionar os tesouros que restam do templo antes deste ser praticamente destruído pelo terramoto de 1693. Em redor da praça uma outra loja artesanal cativa os visitantes de Mdina, e neste aspeto não deixo de referenciar a principal atração da localidade, os trabalhos - magníficos - concebidos em vidro. Mdina Glass (Vidro de Mdina) é a arte que hoje em dia leva o nome desta cidade pelo Mundo fora. Como cidade amuralhada, e povoada por ruas muito estreitas, torna-se díficil a circulação de veículos automóveis, dai que a localidade seja também conhecida como Silent City (Cidade Silenciosa), resguardada do barulho incómodo dos automóveis, facto que permite à nossa mente viajar tranquilamente e de forma silenciosa pelas estreitas artérias e pela rica hstória desta velha cidade medieval.
Um dos locais que mais me atraiu em Malta, sem dúvida.